Nosso próximo número será dedicado a O Infantil.

O infantil, enquanto fato humano, como produz e transforma a vida humana?

Recordemos o gesto inaugural freudiano, aquele “segredo”1 confiado a Fliess, que antecipava uma verdadeira subversão, ao descobrir que estamos determinados por uma sexualidade indomável, pulsante, que não se deixa reduzir.

Sua força é o infantil, este tempo da experiência que deixa marcas indeléveis, restos que permanecerão daquilo que se ganha, se busca, se perde e se imagina em cada encontro com o outro.

Desvelado o segredo, o escândalo não demora a atingir o solo vienense. Do sexual infantil ao infantil sexual… verdadeiro luto do ideal de inocência infantil, para ali situar o perverso polimorfo, e a relação originária da criatura com a vida pulsional. Pulsões parciais, múltiplas, sem objeto predeterminado, explicitam a contingência e a impossibilidade de um encontro harmonioso, quiçá alcançado.

Nosso reservatório libidinal se encontra no infantil. Nossas raízes são as fixações – fixieriung – que se dão no encontro com a palavra que vem do Outro, junto às vivências de gozo. Em seus insondáveis enigmas, espantos, prazeres… é este mundo do assombro que o infantil habita e ali perdura.

Que lugar ocupa em nossa prática o que Freud nomeou de “elemento” infantil? Como orienta a direção das neuroses, já que a neurose é infantil na medida mesma, em que o infantil é o objeto da repressão?

Por sua vez, a fonte do infantil é a que possibilita, cada vez novas reescrituras, releituras, novas versões.

O dispositivo analítico permitirá a passagem à transferência, a atualização das moções precoces, entre a repetição e novas oportunidades, novos destinos.

Como escutar o infantil na transferência? O que acontece com o analista e suas próprias teorias sexuais infantis? Como trabalhamos a partir de nossa própria divisão, o exílio irremediável do infantil de cada um?
Que possibilidades poderemos encontrar para que essa língua pre babélica (Agamben) possa ser ainda escutada? Que significação damos ao jogo?

O infantil não se circunscreve a uma determinada época, nem a uma idade etária, cronológica. Não é o tempo linear, sequencial e numérico. O infantil nos constitui. No presente (P. Quignard).

A eficácia do infantil encontra-se nos tempos lógicos, do a-posteriori, que redimensionam as categorias de presente passado e futuro.

É também o tempo de kairos, que constitui o tempo da oportunidade, que habita a infância.

Convidamos assim, a pensarem o lugar do infantil no Outro da época. Em um mundo enclausurado por uma pandemia global, atravessado por fortes paradigmas postos em discussão, em que lugar o infantil, ou o infans, ou o precoce se instalam em nossa prática psicanalítica?

São estas questões e outras que surgem ao revisitarmos O Infantil, que Calibán, RLP propõe para nossa próxima edição, acompanhando o tema do 52o Congresso da IPA, 2021.

Pedimos que atentem para as normas da revista que estão nas últimas páginas de cada exemplar, assim como no site calibanrlp.com

Aguardamos seus artigos até a data limite de 30 de novembro de 2020.

Os artigos devem ser enviados para: revistacaliban.rlp@gmail.com com cópia para editorescaliban@gmail.com

Notas

Notas
1 Carta de 1895, na qual Freud escreve: Já te comuniquei, oralmente e por escrito, o grande segredo clínico? A histeria é consequência de um espanto sexual/presexual. A neurose obssesiva é a consequência de um prazer que se tornou uma reprovação.

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